“A Internet não é um luxo! É uma necessidade”!

A afirmação que dá título a este texto é do Presidente americano Barack Obama que, no fundo, sublinha aquele que continua a ser o enorme impacto da Internet na sociedade contemporânea e na humanidade.
Tal como a água ou a eletricidade, a verdade é que a Internet, de facto, se tornou uma dependência para grande parte da população mundial. Segundo a International Telecommunication Union (ITU), estima-se que existam no mundo 3.448 milhões de utilizadores de Internet, um número impressionante que, desde 2005, cresceu mais de três vezes. Nessa altura, eram “pouco mais” de mil milhões os utilizadores de Internet.

 

Segundo a International Telecommunication Union (ITU), estima-se que existam no mundo 3.448 milhões de utilizadores de Internet, um número impressionante que, desde 2005, cresceu mais de três vezes.

 

Contudo, este número revela outra dura realidade. Na prática, confirma que vivemos num mundo injusto, um mundo desigual e assimétrico, que não responde de forma equitativa às necessidades dos cidadãos espalhados pelo nosso planeta. É que aqueles quase 3,5 mil milhões de utilizadores de Internet correspondem a menos de metade da população mundial. A verdade é que apenas 47 em 100 habitantes são utilizadores de Internet, ou seja, sendo a Internet uma necessidade, mais de metade da população está à margem da sua utilização e dos benefícios que esta tecnologia arrasta.
Se desagregarmos a informação pelo nível de desenvolvimento dos países, 81 em cada 100 habitantes nos países desenvolvidos são utilizadores de Internet, enquanto que apenas 40 em cada 100 habitantes nos países em vias de desenvolvimento são utilizadores de internet. No contexto regional, na Europa somos 79 em cada 100 habitantes, enquanto que em África são 25 em cada 100 habitantes os utilizadores de Internet. Na Ásia e Pacífico estamos a falar de 42 em cada 100.

 

Passando para a realidade portuguesa, segundo os dados publicados recentemente pelo INE, somos 70% os utilizadores de Internet, um valor abaixo da média da UE28.

 

Passando para a realidade portuguesa, segundo os dados publicados recentemente pelo INE, somos 70% os utilizadores de Internet, um valor abaixo da média da UE28. No entanto, tal como acontece no contexto internacional, este número não diz tudo em relação ao que se passa em Portugal. Para conhecermos melhor a nossa realidade, precisamos de referir que no Norte são 65%, ao mesmo tempo que na Área Metropolitana de Lisboa (AM Lisboa) são 82% o que confirma, aliás, que também nesta matéria as assimetrias regionais registadas no nosso país são significativas.
Isso mesmo é confirmado pelo Índice Digital Regional (IDR) que mede as assimetrias regionais na construção da Sociedade da Informação em Portugal. A última edição, publicada em junho de 2016 numa parceria Universidade do Minho/CCG e FCT, regista a enorme supremacia da AM Lisboa em relação a todas as restantes regiões NUTs II portuguesas, não só no índice global, mas também em cada um dos quatro sub-índices que integram o IDR: Contexto, Infraestrutura, Utilização e Impacto.

 

urge encontrar formas de esbater assimetrias e de promover condições de maior justiça de acesso e utilização às TIC e à Internet, não apenas no contexto global, mas também no nosso próprio país.

 

Neste mundo caraterizado pela rápida evolução tecnológica, assumindo como verdadeira a frase inicial do Presidente Obama que considera a Internet uma necessidade, urge encontrar formas de esbater assimetrias e de promover condições de maior justiça de acesso e utilização às TIC e à Internet, não apenas no contexto global, mas também no nosso próprio país. Para tal, precisamos de conhecer o nosso território bem melhor do que conhecemos hoje, não apenas como um todo, mas sobretudo desagregado de acordo com as especificidades e fragilidades locais e regionais. Só dessa forma conseguiremos, agora e no futuro, definir políticas públicas (e privadas) que possam tornar o nosso país mais coeso e, já agora, globalmente mais competitivo.

 

Fontes:

 


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Luís Miguel Ferreira | Investigador externo @CCG

Luís Miguel Ferreira é Licenciado em Matemática, Mestre em Ensino da Matemática e Doutorado em Tecnologias e Sistemas de Informação pela Universidade do Minho, com tese em “Medir a Sociedade da Informação no Contexto Regional: Um novo instrumento e sua aplicação à situação atual”. Manifesta interesse de investigação na área da medição sociedade da informação e do governo eletrónico. Tem vindo a colaborar com as autoridades nacionais responsáveis pela sociedade da informação e desenvolvimento do governo eletrónico, sendo igualmente investigador externo do CCG.