A tecnologia blockchain é muita falada nos dias de hoje, em relação ao bitcoin, um dos temas quentes da atualidade. Portugal não é exceção. Mas as possibilidades da blockchain ultrapassam largamente o campo da carteira digital das criptomoedas, o campo que a trouxe para a ribalta. Em Portugal já existem eventos, conferências, cursos e mesmo uma associação sobre este tópico: a Associação Portuguesa de Blockchain.
Blockchain: o que é? Como funciona?
Mas vamos por partes. Afinal o que é blockchain? De que se tratam os “blocos em cadeia”? O significado da tecnologia blockchain pode ser explicado simplisticamente como tratando-se de um vasto banco de dados digital, fortemente marcado pela sua incorruptibilidade e pela sua distribuição/descentralização.
Este grande registo digital é distribuído por todo o mundo por uma rede de computadores, guardando-se constantemente todas as alterações feitas na sua informação.
Imaginemos que em vez de se guardar a informação num único cofre, suscetível de ser assaltado, existem imensos cofres espalhados para maior segurança. Estes cofres exigem ações separadas e improváveis de acontecer (mais de metade da rede tem de aceitar alterações na informação).
Esta base de dados é pública, podendo ser acedida por qualquer utilizador de internet. Como não existe uma versão centralizada, ela prima também pela segurança, ajudando a prevenir fraudes, preservando a autenticidade.
A base de dados não permite adulterações, não se conseguindo mudar as operações, que foram verificadas por diversos computadores, computadores estes que confirmam as transações realizadas.
Blockchain e bitcoin – a ligação em cadeia
A blockchain consiste num sistema de informação descentralizada que surgiu com as criptomoedas, e na qual estas assentam, registando as suas transações, sem intervenção de terceiros. Ambas foram inventadas em 2008 por Satoshi Nakamoto – pseudónimo do enigmático cunhador da bitcoin.
A blockchain funciona com blocos encadeados que transportam um conteúdo juntamente a uma impressão digital. No caso das criptomoedas, falamos de transações financeiras. Quando ocorre uma transação, acrescentam-se detalhes a um bloco que já apresenta transações recentes do mesmo género. Cabe aos “mineiros” verificar a validade das transações.
Se a verificação resulta em validação, o bloco posterior passa a conter a impressão digital do anterior, adicionado ao seu próprio conteúdo. Com essas duas informações, gera-se uma impressão digital própria, chegando-se a um registo que pode ser visto por qualquer pessoa, e ao conceito de cadeia de blocos (blockchain).
Este processo continua incessantemente, gerando-se um registo de confiança, das transações realizadas.
Aplicações da blockchain: há muita vida para além das criptomoedas
Mas há vida na blockchain para além do bitcoin. Muita vida. As aplicações a dar a esta tecnologia são imensas. Alguns exemplos disso mesmo são:
- passar diplomas;
- estabelecer contratos de diversas naturezas;
- dar consentimentos legais;
- votar eletronicamente;
- garantir a frescura dos alimentos;
- garantir que donativos chegam aos seus verdadeiros destinatários.
A tecnologia blockchain permite cortar nos processos manuais de verificação, nos intermediários e nos custos, assim como guardar alterações automaticamente, simplificando todos os procedimentos, que normalmente pecam pela enorme burocracia.
Há já quem apelide a blockchain de “nova internet”. Tal como a internet alterou a imprensa e os media, ou o comércio e a publicidade, esperam-se grandes transformações com a blockchain. Isto em campos como a banca, os seguros, a economia, a área legal, a saúde, e até a moda e a música. Basicamente, em tudo a que se refira a direitos de autor, a propriedade, à compra e venda, a pagamentos internacionais, a consentimentos e ao registo pode ser afetado com esta tecnologia.
Blockchain: um oceano de possibilidades
Internet das coisas, networking, cibersegurança, dados, gestão da cadeia de fornecimento, transporte privado e partilhado, armazenamento na cloud, governo, benefícios públicos, gestão de energia, retalho, imobiliária, crowdfunding são outros exemplos de áreas em que a blockchain pode mudar as regras do jogo.
A descentralização proporcionada por esta tecnologia pode criar novas oportunidades para as empresas, ou então abalar o seu funcionamento. Novos modelos de negócio deverão ser desenvolvidos com esta tecnologia em mente.
As apps em modelo descentralizado (dApps) prometem também semear a inovação, abrindo os portões aos desenvolvimentos independentes. Muitos cenários se poderão desenvolver com a blockchain. É ficar atento ao seu big bang.