Imagine um mundo onde os resultados de I&D saltam do ecrã de computadores e da bancada do laboratório e aterram no nosso quotidiano, transformando a forma como vivemos, trabalhamos e interagimos. Isto não é apenas um desejo, é o poder da Transferência de Tecnologia em ação.
A Transferência de Tecnologia é um processo colaborativo para levar as descobertas científicas e desenvolvimentos tecnológicos de ponta das instituições de I&D para o mercado, onde podem ter um impacto real. É a “ponte” entre as mentes brilhantes que produzem conhecimento e as empresas dinâmicas que o utilizam e comercializam, através de produtos e serviços úteis. Esta “ponte” tem a vantagem de ser colaborativa e de ter dois sentidos: também leva as necessidades do mercado e das pessoas, muitas vezes difíceis de resolver, a quem pode ter as soluções para elas.
Por que é que a Transferência de Tecnologia é tão importante?
Resumidamente, trata-se de criar valor, de desbloquear o potencial latente de invenções científicas e transformá-las em produtos, serviços e soluções que nos beneficiam a todos. Desde novos métodos de diagnóstico médico que salvam vidas, passando por ferramentas que facilitam o nosso trabalho, até soluções de energia sustentável que combatem as alterações climáticas. Áreas emergentes como a Inteligência Artificial (IA) e a digitalização estão a redefinir as fronteiras do possível, onde a transferência de tecnologia é fundamental para que essas soluções passem a fazer parte do nosso dia-a-dia.
Os Gabinetes de Transferência de Tecnologia (TTO – Transfer Technology Office, na sigla inglesa) surgiram em universidades americanas nos anos 80. Em Portugal, estas organizações disseminaram-se e ganharam força na primeira década deste século, impulsionadas pela criação da rede GAPI (Gabinetes de Apoio à Propriedade Intelectual). Estes gabinetes, e outras estruturas criadas desde então, juntamente com um incremento de apoios públicos para este fim, muito têm contribuído para uma maior disponibilidade e interesse das empresas em colaborar com as universidades. A juntar a isso, atualmente, cada vez mais as empresas entendem que a sua competitividade futura assenta, em boa parte, na inovação, trabalhada hoje.
Entidades como a Agência Nacional de Inovação têm implementado ou gerido medidas (maioritariamente com recurso a financiamento europeu) para promover a cooperação universidade-empresa e a comercialização de resultados de I&D. Iniciativas, como os projetos de I&D, que juntam empresas e entidades do sistema científico e tecnológico nacional - (IES, institutos de investigação, etc.), Laboratórios Colaborativos (CoLABs) - ou as mais recentes Agendas Mobilizadoras, almejam o estreitamento das relações universidade-empresa, ao mesmo tempo que tentam desenvolver tecnologia, transformada em produtos e serviços de valor acrescentado. E são vários os casos de sucesso!
Desafios e estratégias futuras
Ainda assim, muitas das barreiras aplicadas à Transferência de Tecnologia continuam por ultrapassar e, várias das medidas que parecem transformadoras, acabam por se traduzir em parcos resultados. A continuação do aumento da aposta nesta área, nomeadamente com fortes políticas públicas de promoção da cooperação e transferência de tecnologia devem, portanto, ser baseados em dados científicos, de forma a assegurar a melhor alocação de recursos e a maximização do impacto. Importa, também, referir que, num país pequeno como Portugal, os profissionais desta área devem trabalhem em conjunto de modo a ganhar massa crítica e especificidade. Finalmente, uma estratégia a longo prazo, associada a financiamento previsível, mostra-se também fundamental para mais e melhores resultados.
No complexo processo de Transferência de Tecnologia e de cooperação entre as universidades e as empresas, com vários mecanismos e canais, há barreiras que um processo coerente vem ajudar a mitigar. No entanto, no "fim do dia", são as relações humanas que determinam o sucesso desta relação.
Portanto, da próxima vez que se maravilhar com o mais recente gadget tecnológico, lembre-se do caminho que ele fez para chegar às suas mãos. A Transferência de Tecnologia é mais do que um processo, é um testemunho da criatividade e colaboração humanas, que nos conduz em direção a um futuro mais brilhante e inovador.
Telmo Santos,
Gestor de Transferência de Tecnologia do Instituto CCG/ZGDV