Imaginemos uma criança na loja, deitada no chão, com lágrimas nos olhos, a bater as pernas e a clamar por um brinquedo deslumbrante. Ou talvez você, ao tentar usar um novo produto tecnológico, e encontra dificuldades inesperadas: “parecia tão simples e afinal…” a angústia, a frustração, o sentimento de incapacidade. Estes são apenas alguns exemplos de como as emoções moldam as nossas vidas e influenciam as nossas interações, decisões e forma de aprender.
Vivemos numa sociedade de consumo, onde os desejos individuais entrelaçam-se com as referências coletivas. Procuramos não só produtos, mas uma conexão, um propósito e valores. Este é um universo repleto de significados e simbolismos que despertam os gatilhos do sentir e a construção da identidade através do consumo. Falamos do intangível e do poder das emoções!
É neste contexto que o afeto e o prazer tornam-se estratégias empresariais competitivas e inteligentes. O resultado? Produtos e serviços projetados para proporcionar experiências impactantes, intuitivas e eficientes. Além de funcionarem bem, fazem-nos sentir bem, reforçando conexões emocionais, despertando o prazer no uso e potencializando experiências positivas.
A importância da qualidade percebida
Excelentes produtos e serviços já não são suficientes para conquistar a preferência do consumidor. Há uma lacuna que não pode ser mais ignorada: a perceção da qualidade. É preciso entender não só o que os consumidores dizem que desejam, mas também como eles percebem e avaliam o produto ou o serviço e o contexto em que se inserem. O intangível envolve e afeta a perceção, influenciando no valor percebido pelo consumidor. É complexo, mas a boa notícia é que isso pode ser moldado por estratégias empresariais, ao direcionar recursos de forma mais eficiente, em busca da superação das expectativas do mercado existente.
A qualidade percebida é construída a partir da opinião, impressão e/ou sentimento dos consumidores em relação aos produtos e serviços, levando em consideração a sua usabilidade, adequação e confiabilidade. Assim, a forma como o consumidor percebe a qualidade, reflete as suas interações e nem sempre está diretamente ligada à qualidade real do produto ou serviço. Estamos a falar de perceção, e este parâmetro é muitas vezes influenciado por uma ideia pré-concebida, ou por uma reflexão de interações anteriores. É por isso que, criar estratégias para moldar a qualidade percebida, pode ser um dos segredos para o sucesso no mercado atual.
Criar conexões emocionais
A diversidade de produtos, mais do que uma opção, é uma necessidade, como resposta a um mundo massificado. Logo, a capacidade de criar conexões emocionais com os consumidores torna-se uma vantagem competitiva crucial e, ao mesmo tempo, um desafio. É aqui que entra o poder do Design Emocional.
Cada detalhe, desde a forma até à cor, das informações às suas ativações, pode provocar sentimentos que influenciam a maneira como os utilizadores percebem e interagem. Essa conexão emocional não é apenas uma teoria, ela tem um impacto tangível na experiência de uso e na fidelidade do cliente. Afinal, produtos com apelos afetivos são mais desejáveis, atrativos e encantadores.
É aqui que entra mais um desafio e um ingrediente para o sucesso: essas emoções não são universais. São moldadas pela cultura e pelo contexto social de cada um. Portanto, entender as nuances culturais torna-se essencial para criar produtos que ressoem com seu público-alvo. As emoções têm o poder de influenciar profundamente a forma como a mente humana aborda e resolve problemas.
O Design Emocional procura oferecer soluções que vão além das necessidades funcionais, ao materializar estratégias tangíveis como estímulo para despertar essas emoções, alimentando uma nova mentalidade que valoriza positivamente estes sentimentos. Impulsionando, assim, a eficiência, eficácia, facilidade de uso, confiabilidade e tornando o produto mais afetivo, desejável, atrativo e encantador.
Visão empresarial: as emoções como diferencial competitivo
Para as empresas, a estratégia resume-se no seguinte: maximizar as emoções positivas e minimizar as negativas, reconhecendo que as emoções são mutáveis, contínuas e temporais.
É hora de romper com o tradicional e de abraçar uma nova era do design, centrada nas habilidades e necessidades humanas. Pensar nas emoções é uma forma de agregar valor tangível e intangível ao produto e de aumentar a satisfação do utilizador. O design emocional ganha força para potenciar estas relações afetivas e subjetivas, inspirando sentimentos e conexões verdadeiras.
Os fatores humanos e as emoções desempenham um papel interconectado na experiência do utilizador, considerando a funcionalidade, a estética e as emoções, ao projetar produtos que realmente cativam e satisfazem os consumidores. A magia para desenvolver produtos focados na experiência holística, passa pela empatia e pela sensibilidade ao longo de todo o processo.
Isto aplica-se aos mais variados setores, como por exemplo no Departamento HTIR do CCG/ZGDV, onde introduzimos a ótica emocional, não só no desenvolvimento de produtos tecnológicos, ou como auxílio na aprendizagem, mas também na área industrial, na saúde, ou na educação. Curiosamente, conseguimos reduzir erros, pedidos de ajuda, desistências de uso e melhorar a eficiência, com a diminuição das emoções negativas e o aumento das emoções positivas.
Desta forma, o sucesso é inevitável: maior número de vendas, clientes satisfeitos e uma marca que se destaca. Este é o poder do design emocional na era do mercado competitivo. Então, da próxima vez que pensar em design, lembre-se do poder de emocionar, inspirar e cativar os seus utilizadores. Afinal, no mundo dos negócios, as emoções são o verdadeiro diferencial competitivo.
Autora: Iara Margolis
Investigadora de fatores humanos do HTIR (Human Technology-Interaction and Robotics) do Instituto CCG/ZGDV. Doutorada em Design (com a temática do design emocional), pós-doutora em experiência do utilizador (UX) na realidade estendida (XR) com mestrado e bacharelado em Engenharia.