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A cidade como um grande computador
24 Fevereiro, 2025

As cidades são entidades complexas que, com o tempo, têm vindo a acomodar uma grande variedade de dispositivos digitais com diferentes objetivos. Tal como um computador pessoal pode estar rodeado de periféricos, as cidades devem ser capazes de integrar os seus dispositivos periféricos, instalados no espaço urbano, num sistema nuclear que assegure o funcionamento coordenado de todos os elementos.

 

Os computadores tornaram-se omnipresentes nas nossas vidas. Há muito que deixaram de ser algo usado apenas pelos especialistas para estarem presentes em todos os momentos do nosso quotidiano. Passamos de um sistema tradicional, baseado numa interação feita através do teclado e ecrã, para algo muito mais abrangente. Continuamos a ter os computadores ditos tradicionais (em diferentes formatos), mas passamos a ter também sistemas que são especificamente desenvolvidos para meios de transporte, eletrodomésticos, domótica, equipamentos de lazer, etc.

Por exemplo, hoje não há carros sem computadores. Estes últimos controlam o funcionamento de todos os elementos mecânicos e elétricos e, assim, só o ato de conduzir um automóvel faz com que estejamos a beneficiar (usar) de sistemas computacionais.

Ter um computador significa ter um sistema operativo. Os sistemas operativos modernos são complexos, compostos por vários subsistemas que incluem a gestão de memória, o escalonamento de processos, a gestão do sistema de ficheiros, etc. São obviamente fundamentais pois tornam possível a utilização de um computador, assegurando a interação com o utilizador e a interação com o hardware dos computadores e respetivos periféricos. No fundo, os sistemas operativos escondem a complexidade que existe na interação com a eletrónica do computador.

Nas cidades temos: semáforos controlados por um sistema específico, luminárias que conseguimos controlar remotamente, sensores que fornecem dados sobre os fluxos de trânsito que se faz sentir, sensores ambientais que nos indicam o estado do tempo, etc. Contudo, uma cidade, para ser verdadeiramente inteligente, tem de conseguir fazer com que as vários partes atuem de forma integrada e coordenada. É um imenso desafio juntar sistemas que funcionam sob diferentes tecnologias, geograficamente dispersos, que fornecem dados de natureza diversa e que usam diferentes protocolos de comunicação.

Olhando para a cidade do céu, devemos vê-la como um grande computador, com os vários componentes espalhadas pela sua área geográfica. O sistema operativo da cidade deve esconder a complexidade de interagir com os vários elementos existentes e fornecer aos utilizadores (gestores municipais?) a interface necessária para operar sobre a cidade.

No mundo dos computadores pessoais podemos adicionar periféricos, desde que o fornecedor disponibilize o software necessário para o sistema operativo interagir com o dispositivo. Na cidade, o cenário deveria ser idêntico. A adição de novos sistemas deve ser possível mediante interfaces que permitam ao sistema operativo da cidade interagir com o novo equipamento.

Com o tempo, os sistemas vão-se modernizando e por isso os sistemas operativos vão evoluindo, com novas versões a trazer novas funcionalidades e facilidades de utilização. Porque não ter algo idêntico para uma cidade? Qual é a versão do sistema operativo da sua cidade?

 

Artigo de opinião por:

Filipe Meneses, Coordenador Técnico do departamento de Urban and Mobile Computing (UMC)

Adriano Moreira, Coordenador Científico do departamento de Urban and Mobile Computing (UMC)