A agricultura portuguesa vive um momento de inflexão estrutural. Perante desafios como o envelhecimento da população ativa, a escassez de mão-de-obra, as alterações climáticas e a crescente exigência por práticas mais sustentáveis e rastreáveis, a digitalização e a inovação tecnológica assumem um papel central na promoção da competitividade e resiliência do setor.
Neste contexto, a Agricultura de Precisão (AP) destaca-se como um dos pilares da Agroindústria 4.0, promovendo uma transição da gestão empírica para uma abordagem baseada em dados, modelação computacional e inteligência artificial. Esta metodologia permite uma gestão diferenciada das parcelas agrícolas, ajustando práticas como a rega, fertilização ou proteção fitossanitária às condições reais do solo, da cultura e do clima em diferentes regiões do território nacional.
A AP apoia-se em tecnologias como GPS, sensores de solo e planta (NDVI, humidade, condutividade elétrica), drones, imagens de satélite e plataformas digitais. Os dados recolhidos e analisados de forma georreferenciada permitem otimizar o uso de recursos, aumentar a eficiência produtiva e apoiar a tomada de decisão com base em evidência científica.
Entre os principais benefícios desta abordagem destacam-se:
• A redução do consumo de água, fertilizantes e pesticidas;
• A melhoria da rentabilidade das explorações;
• A monitorização contínua do ecossistema agrícola;
• Reforço da rastreabilidade e sustentabilidade ao longo da cadeia produtiva.
Paralelamente, a necessidade de garantir segurança alimentar a uma população mundial em crescimento exige um aumento da produção agrícola num curto espaço de tempo, com menos recursos e maior eficiência. A AP torna-se, assim, uma ferramenta estratégica para uma intensificação sustentável, conciliando produtividade, rastreabilidade e responsabilidade ambiental ao longo de toda a cadeia agroalimentar.
Não obstante os benefícios evidentes, a adoção generalizada da AP continua a enfrentar desafios significativos. Entre os principais obstáculos identificam-se:
• Custos iniciais de investimento elevados;
• Carência de formação técnica especializada;
• Dificuldade de obtenção e integração dos dados;
• Falta de conectividade digital em zonas rurais.
Apesar disso, verifica-se em Portugal uma adoção crescente destas práticas, apoiada por projetos de investigação aplicada e pela atuação de instituições como o CCG/ZGDV, em parceria com entidades como a ADVID.
A viticultura, altamente sensível às condições do solo e do clima, é particularmente beneficiada, através de tecnologias de mapeamento do vigor vegetativo que permitem intervenções ajustadas na poda, rega e vindima. Por sua vez, os sensores de humidade e modelos agrometeorológicos possibilitam estratégias de rega eficiente e práticas regenerativas. Os sistemas de deteção precoce, como armadilhas inteligentes ou imagens hiperespectrais, favorecem uma proteção integrada e menos impactante, enquanto que a colheita seletiva, orientada por dados, potencia vinificações de maior qualidade.
Detentor de uma sólida experiência na aplicação de ciência computacional a desafios industriais, o CCG/ZGDV assume-se como parceiro estratégico na transição digital deste setor. Com competências em análise de dados, modelação de sistemas, plataformas digitais e Internet das Coisas (IoT), no CCG/ZGDV desenvolvemos soluções que permitem a monitorização em tempo real, a previsão de riscos e a gestão inteligente de recursos.
A missão é clara: contribuir para uma agricultura mais eficiente, sustentável e baseada em conhecimento aplicado. A inovação não é apenas tecnológica, é também estratégica e colaborativa. O CCG/ZGDV está preparado para apoiar os agentes do setor agrícola e vitivinícola, colocando a ciência e a tecnologia ao serviço de uma agricultura mais resiliente e sustentável.
Artigo de opinião por:
Olga Oliveira, Science and Business Manager